terça-feira, 5 de maio de 2009

A CRUZ - O MENSAGEIRO DA CRUZ - PARTE 6


A CRUZ E SEU MENSAGEIRO (continuação)


B. O Método de Pregar
Sabemos que Paulo não somente pregou a cruz como uma pessoa crucificada, mas pregou-a no espírito da cruz. No viver diário ele foi uma pessoa crucificada; na sua pregação também foi uma pessoa crucificada. Ele anunciava a cruz vivendo a cruz. Era uma pessoa crucificada com Cristo. Essa era sua experiência em vida. Ao anunciar a cruz, ele não exercitou a "ostentação de linguagem ou sabedoria",
 ou "linguagem persuasiva de sabedoria" (1 Co 2:1,4), nas quais era capaz. Ele sabia que estas não serviriam como meios adequados para o canal de vida de Deus. Em vez disso, ele confiou na "demonstração do Espírito e de poder" (v. 4). Tal pregação é aquela em que a palavra da cruz é pregada com a atitude da cruz. Com sua habilidade e experiência, ele certamente poderia ter articulado a verdade da cruz em palavras persuasivas e teorias inteligentes, capturando a atenção dos ouvintes e fazendo-os compreender o que tinha a dizer. Ele poderia ter feito a cruz cruel parecer muito interessante. Poderia ter usado muitas ilustrações apropriadas e provérbios simples para expor o mistério da cruz. Poderia ter citado a Escritura e explanado a filosofia da cruz, esclarecendo aos outros a morte substitutiva e a co-crucificação da cruz. Paulo era capacitado para fazer essas coisas, mas não as faria. Seu coração não confiava nessas coisas, pois sabia que não poderiam dar vida a outros. Ele sabia que fazendo isso, estaria pregando a grande verdade da cruz com meios contrários à cruz. Para o mundo, a cruz é humilde, baixa, tola e feia. Isso é o que a cruz é de qualquer modo. Anunciá-la com ostentação de linguagem e sabedoria mundanas seria contrário ao espírito da cruz e não teria qualquer proveito. Paulo desejava abandonar seu intelecto natural e anunciar a cruz com a atitude e o espírito da cruz. Esse foi o motivo pelo qual Deus o usou grandemente.
Cada um de nós tem dons naturais. Alguns podem ter mais; outros, menos. Após ter passado pela experiência da cruz, temos a tendência de confiar na força natural ou valer-nos dela para anunciar a cruz que acabamos de experimentar. Como nosso coração deseja que os ouvintes vejam o que temos visto ou ganhem a mesma experiência que nós! Contudo, quão frios e indiferentes estão os ouvintes! Como eles nos desapontam! Pouco percebemos que nossa experiência da cruz ainda é imatura, nossos excelentes dons naturais precisam ser crucificados com o Senhor e a cruz deve trabalhar em nós. Deveríamos manifestar a cruz não somente em nossa vida, mas também em nossa obra. Antes de alcançar a maturidade, tendemos a considerar que a força natural não é prejudicial, mas proveitosa. Desejamos saber por que não podemos valer-nos da força natural. Só quando vemos que a obra realizada valendo-nos da habilidade natural causa apenas aceitação temporária por parte dos outros, e não efetua uma sólida obra do Espírito Santo no espírito das pessoas, é que começamos a entender que o dom natural é insuficiente e devemos procurar um poder maior. Quão numerosos são os que pregam a cruz com a força da própria pessoa!
Não estou dizendo que eles não têm a experiência da cruz. É possível que realmente a tenham. Enquanto trabalham, não declaram que estão confiando nos próprios dons ou poder. Pelo contrário, oram diligentemente e procuram obter a bênção de Deus e a ajuda do Espírito Santo. Até certo ponto, sabem que não são dignos de confiança. Contudo, todas essas realizações não os ajudam, porque na parte mais profunda de seu coração eles ainda confiam em si mesmos, achando que sua eloqüência, lógica, pensamentos ou parábolas vão comover as pessoas! O significado da crucificação é estar desamparado, em fraqueza e em temor e tremor. Isso quer dizer morrer. Isso é o que ocorre quando uma pessoa é crucificada. Portanto, se manifestamos a vida da cruz na vida diária, deveríamos também manifestar o espírito da cruz na obra do Senhor. Devemos considerar-nos desamparados e sempre achar-nos indignos de confiança, estando em temor e tremendo por nós mesmos. Se fizermos isso, obteremos fruto por meio da confiança no Espírito Santo.
Somente os que estão crucificados estão dispostos e aptos a confiar no Espírito Santo e em Seu poder. Sempre que tivermos a mínima confiança em nós mesmos, não confiaremos no Espírito. Paulo mesmo era alguém que havia sido crucificado com o Senhor. Ao trabalhar, ele manifestava o espírito da cruz. Ele não era de forma alguma autoconfiante. Por ter pregado o Salvador da cruz à maneira da cruz, ele tinha a demonstração do Espírito e de poder (1 Co 2:4). Devemos ser capazes de dizer como Paulo que "o nosso evangelho não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção" (1 Ts 1:5). Se o Espírito e Seu poder não operaram por trás do nosso falar, nossas palavras serão inúteis mesmo que sejam atraentes. Oh! que possamos desprezar as habilidades naturais e estar dispostos a perder tudo a fim de ganhar o poder do Espírito Santo de Deus!
Nisso reside a chave para a diferença entre frutificação e esterilidade num evangelista. Algumas vezes, vemos dois evangelistas que têm a mesma eloqüência e expressões. Contudo, Deus é capaz de usar um deles para dar muito fruto. O outro pode ser espiritual e bíblico no falar, e o público pode também prestar muita atenção a ele; entretanto, nada resulta do seu falar; não há fruto. Não é difícil descobrir a razão por trás dessa diferença. Segundo minha observação, posso ver que um deles é uma pessoa realmente crucificada; ele tem a experiência. O outro somente permanece na imaginação. Os que não têm nada exceto "imaginações" certamente não podem pregar a cruz à maneira da cruz. Se os que têm a vida da cruz proclamam sua experiência a partir do seu espírito, o Espírito Santo certamente estará com eles. Mesmo que alguns sejam mais eloqüentes que outros e sejam capazes de analisar e ilustrar bem, o Espírito Santo não operará com eles a menos que a cruz já tenha feito uma obra sólida em seu coração. O que nos falta é a obra profunda da cruz em nós, que resulte no Espírito Santo trabalhando conosco em nossa pregação do evangelho e em Sua vida fluindo por nosso intermédio. Embora o Senhor possa por vezes utilizar nossos dons naturais, essa não é a fonte da frutificação. As obras feitas por meio da vida natural são essencialmente obras vãs. Somente as obras realizadas por meio da vida sobrenatural podem produzir muito fruto.
Aqui podemos considerar outra passagem da Bíblia. Isso nos explicará a diferença entre confiar na vida natural e confiar na vida sobrenatural. O Senhor Jesus disse: "Se o grão de trigo não cair na terra e morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida da alma, perde-a e quem odeia a sua vida da alma neste mundo, guardá-la-á para a vida eterna" (Jo 12:24-25).
Aqui o Senhor explicou detalhadamente o princípio de produzir fruto. O grão de trigo deve primeiro morrer para então produzir muito fruto. A morte é a vereda necessária para a produção de fruto; é o único caminho para produzir fruto. Costumamos orar ao Senhor que nos conceda maior poder para produzir mais fruto. Entretanto, o Senhor disse-nos que primeiro devemos morrer e ter a experiência da cruz antes ter a autoridade do Espírito Santo. Freqüentemente tentamos saltar sobre o Gólgota para alcançar o Pentecoste. Pouco percebemos que sem a cruz a crucificar-nos e despojar-nos de tudo o que é natural, o Espírito Santo não pode trabalhar conosco para ganhar a outros. Somente por meio da morte pode haver a produção de fruto.
A natureza do fruto aqui também prova o que dissemos anteriormente, que o propósito de nossa obra é dar vida a outros. Quando o grão de trigo morre, produz muitos grãos. Ao morrer, dispensa vida a muitos outros grãos. Todos esses outros grãos contêm vida em si mesmos. A vida que possuem origina-se de um grão morto. Se de fato morrermos, poderemos tornar-nos canais de vida de Deus e dispensar vida a outros. Essa vida não é um termo vazio; com ela existe o real poder de Deus. Quando esse poder é liberado de nós, ele dá vida às pessoas.
Aqui, o fruto resultante do grão de trigo é múltiplo; é "muito fruto". Quando estamos restringidos em nossa vida, o máximo que conseguimos obter pelo labor é uma ou duas pessoas. Isso não quer dizer que não salvaremos ninguém. Entretanto, quando morrermos como o grão de trigo, daremos "muito fruto". O que quer que façamos, mesmo se formos negligentes em umas poucas palavras, ainda assim levaremos outros a ser salvos ou edificados. Que possamos produzir muito fruto!
Mas, exatamente, que significa cair na terra e morrer? Compreenderemos isso ao ler a seguinte palavra do Senhor: "Quem ama a sua vida da alma, perde-a; e quem odeia a sua vida da alma neste mundo, guardá-la-á para a vida eterna". Vida aqui é mencionada algumas vezes. No texto original, diferentes palavras são utilizadas para "vida". Uma denota a vida da alma e a vida natural. Outra denota a vida espiritual e a vida extraordinária. Portanto, o que o Senhor Jesus diz aqui é: "Quem ama a vida da alma perderá a vida espiritual; e quem odeia a vida da alma neste mundo, guardará a vida espiritual para a eternidade". Posto de maneira simples, esse versículo diz-nos que deveríamos colocar a vida da alma na morte da mesma maneira que um grão de trigo é plantado na terra. Posteriormente, daremos muito fruto na vida espiritual, que permanecerão eternamente. Queremos ter muito fruto. Entretanto, não sabemos como levar à morte a vida da alma e como fazer viva a vida espiritual. A vida da alma é simplesmente a vida natural. A carne é capaz de viver por causa da vida da alma. A vida da alma é o órgão pelo qual vivemos. Tudo o que uma pessoa possui por natureza, como vontade, poder, emoção e pensamento, são todos partes da alma. Tudo o que a vida natural possui é o subproduto da vida da alma. O intelecto, pensamento, eloqüência, emoção e habilidades pertencem à vida da alma. A vida espiritual é a vida de Deus. Essa vida não se desenvolve de nenhuma parte da vida da alma, mas é especificamente dada a nós por Deus quando cremos na cruz do Senhor e somos regenerados. O que Deus efetua em nós agora é desenvolver essa vida espiritual e fazê-la crescer. Todas as nossas boas obras e o poder para trabalhar resultam da vida espiritual. Sua intenção é conduzir nossa vida da alma à morte. (A morte referida aqui é diferente daquela em 2 Coríntios 4, que é de outro aspecto).
Muitas vezes o poder da nossa obra vem da habilidade natural ou da vida da alma. Descobrimos que sempre precisamos usar nossa eloqüência, sabedoria, conhecimento e habilidades. Uma das coisas mais terríveis é o poder que empregamos na pregação; ele provém da vida da alma. Exercitamos o poder natural. Isso reduz drasticamente o fruto. Em nossa obra, não sabemos como aplicar o poder da vida espiritual. Muitas vezes, tomamos a vida da alma como se fosse a vida espiritual. Como resultado, acabamos por fazer uso do poder natural. Freqüentemente, temos de aguardar até que todo o poder natural de nosso corpo se esgote antes de começar a confiar no poder da vida espiritual. Muitos nem mesmo chegam a esse padrão. Sempre que se sentem fracos no vigor físico, reconhecem que não podem mais trabalhar. Outros que estão mais adiantados continuariam na fraqueza e prosseguiriam a trabalhar tentando confiar na força do Senhor. Entretanto, se verdadeiramente compreendermos a maneira de morrer para nossa força natural (anímica), e se crermos no poder da vida espiritual que Deus pôs em nós, não dependeremos da força natural para o nosso trabalho, seja nos momentos em que estivermos sem essa força, seja quando estivermos cheios dela. Fico triste que muitas obras cristãs permaneçam na alma, não obstante o fato de esses cristãos serem muito zelosos e sinceros. Tal obra jamais toca a esfera espiritual. A diferença entre usar o poder espiritual e o poder anímico é algo que palavras não conseguem explicar. Somente podemos compreendê-la no espírito e no coração. Contudo, quando o Espírito Santo nos iluminar, chegaremos à percepção plena dela na experiência.
Porque é preciso cuidar da fraqueza que há entre os muitos filhos de Deus, trataremos essa questão em detalhes. Contudo, podemos somente aguardar que o Espírito Santo de Deus nos mostre pessoalmente o significado real dessa verdade e a maneira de praticá-la na experiência. Existem principalmente três aspectos para as características da obra da alma. Primeiro é a habilidade natural, segundo é a emoção, e terceiro é a mente.

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